A melhor forma de o consumidor se proteger e não levar gato por lebre é ler o rótulo dos alimentos, adverte Patrícia Campos Ferraz
Jornal da USP
Quando fazemos compras no supermercado devemos estar atentos a tudo. Preços, marcas e o que compõe os alimentos. Existe azeite que não é azeite, mas sim óleo composto, mel que não é mel, mas xarope de glicose, iogurte vira bebida láctea, pão integral se transforma em pão saudável ou fit. Para não levar gato por lebre, o ideal é estar muito atento na hora da compra, porque senão você pode causar danos à sua saúde, como explica Patrícia Campos Ferraz, professora graduada em Nutrição pela Faculdade de Saúde Pública da USP e mestre em Ciência dos Alimentos pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP.
“O risco de consumir esses produtos, que parecem os originais, é de você ser enganado e consumir nutrientes de menos, aditivos demais, substituir um produto que tem uma qualidade nutricional que é conhecida por um outro com um grau a mais de processamento e, portanto, um risco maior de insegurança alimentar, ou seja, esses alimentos podem contribuir para um excesso de açúcar, uma falta de proteína, um excesso de aditivos que a longo prazo pode ter danos à saúde. Normalmente, esses produtos são derivados de algum outro e isso está discriminado na embalagem. Geralmente, esses produtos podem vir acompanhados de palavras como bebida láctea, bebida à base de ou bebida sabor de. Então não é exatamente o produto original, mas algo que foi derivado de um produto original.”
Desde 2022 existe uma portaria da Anvisa, o sistema Lupinha, que pode auxiliar o consumidor. É uma maneira fácil do consumidor identificar um produto que é rico em sal, em açúcar, ou é rico em gordura saturada ou gordura trans. Então é fácil identificar que aquele produto tem um alto teor de um nutriente que oferece riscos à saúde quando de consumo elevado. “Não existe, até onde eu sei, uma legislação específica no que tange a discriminar esses produtos à base de ou sabor de outros conhecidos, esses produtos que são derivados de produtos já consolidados no mercado.”

A nutricionista explica que a melhor forma de o consumidor se proteger é lendo o rótulo dos alimentos. “O que protege o consumidor nesse caso é a informação nutricional. É o conhecimento, analisar um rótulo, saber localizar as lupas, saber identificar os ingredientes dos alimentos. A gente sabe que o primeiro ingrediente na lista nos rótulos é o alimento predominante, então, se um alimento tem como primeiro ingrediente açúcar, por exemplo, já é um produto considerado inseguro. Os três primeiros ingredientes são muito importantes. Então açúcar, sal, gordura ou excesso de aditivos, muitos nomes que você não consegue entender ou identificar como produtos naturais, como alimentos, isso já indica um certo sinal de perigo de que aquele alimento provavelmente se trata de um alimento ultraprocessado, que sabidamente é inseguro para saúde.”
Preço é um apelo
A professora explica que muitos fatores podem influenciar na hora da compra, comprometendo a segurança alimentar. Normalmente o preço desses produtos costuma ser consideravelmente menor do que os originais. Isso é um fator muito importante para várias famílias. “Nem sempre o consumidor compra isso de maneira errônea. Muitas vezes, sim, quando ele não sabe fazer a identificação, prestando bastante atenção na embalagem e sabendo ler os rótulos nutricionais. Mas o preço é um apelo. O que é um problema, porque fragiliza as pessoas com menor poder aquisitivo, elas ficam se expondo ou sendo expostas a produtos nutricionalmente inferiores. Portanto, a segurança alimentar fica bem comprometida numa situação como essa. A melhor forma de consumir esses produtos similares aos originais é sabendo interpretar os rótulos.”
Procurando na internet é possível ter aulas de educação nutricional. É muito importante as pessoas terem a capacidade de identificar e interpretar um rótulo nutricional o mínimo possível para consumir melhores produtos. Esse é um ponto bastante importante para analisar qualidade e preço. Quem tiver condições não deve escolher um produto somente baseado no preço.
Também existem aplicativos que ajudam o consumidor a identificar a sua qualidade. Para isso, basta fotografar o rótulo ou o código de barra e o aplicativo é um score. Ele atribui uma nota à qualidade nutricional daquele produto industrializado e atribui uma cor vermelho, verde ou amarelo para dizer se o produto tem boa qualidade nutricional, média ou baixa.
Fazer um consumo pouco frequente, talvez uma, duas vezes por mês, e tentar comprar alimentos mais naturais, em feiras livres, permitem fazer uma comida de qualidade em casa. Realizar receitas caseiras que almejam aquele produto que você compraria industrializado de má qualidade é muito mais interessante do que comprar esse tipo de produtos para consumi-los com frequência. Para não ter complicações com algumas doenças, o melhor é evitar o consumo desses produtos, discrimina a especialista.
Pessoas com patologias – obesidade, diabetes, doenças metabólicas em geral – deveriam evitar esses alimentos com alto teor de açúcar, sal ou com grandes quantidades de aditivos, porque, com relação ao sal, açúcar e a gordura saturada, o malefício para a saúde hoje em dia é bem claro, mas o que não sabemos com clareza são os efeitos dos aditivos alimentares combinados. “A Anvisa realiza um estudo muito cuidadoso dos aditivos alimentares isoladamente, mas alguns produtos contêm uma quantidade muito grande de aditivos e nós não sabemos direito como essa combinação de tantos aditivos repercute na saúde do indivíduo. Assim, esses produtos mesmo de consumo esporádico e para as pessoas que têm algum tipo de doença metabólica, eu diria que eles são fortemente contraindicados.”