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Morre Alcides Lima, o “Cidão”, fundador da Traditional Jazz Band

Publicada em: 14/04/2025 16:18 - Música e cultura

Alcides de Oliveira Lima, conhecido nacionalmente como “Cidão”, faleceu no último dia 12 de abril de 2025, aos 85 anos, em São Paulo. Ele foi o fundador da icônica Traditional Jazz Band.

Nascido em 7 de julho de 1940, na cidade de Sorocaba (SP), Alcides Lima descobriu a música ainda na adolescência. Apaixonado por percussão, começou a tocar bateria por volta dos 16 anos e, desde então, nunca mais deixou de viver a música em sua plenitude.

Foi ainda muito jovem que Cidão começou a se encantar pelo jazz — especialmente o jazz tradicional de Nova Orleans, com suas melodias alegres, improvisações vibrantes e forte apelo rítmico. Ele mergulhou nesse universo sonoro com profundidade e dedicação, tornando-se um dos maiores difusores do estilo no Brasil.

Além de baterista, Cidão se tornou uma figura carismática e performática nos palcos. Sua presença energizava plateias com piadas, improvisos e comentários espirituosos, sempre alinhados ao espírito irreverente do jazz de raiz. Para muitos fãs, ele não era apenas um músico — era o mestre de cerimônias do show.

Em 1964, durante um encontro entre jovens estudantes apaixonados por jazz, surgiu a ideia de formar um grupo dedicado exclusivamente ao estilo tradicional norte-americano. Foi ali, na capital paulista, que nasceu a Traditional Jazz Band, com Cidão como um de seus fundadores e principal referência artística.

Inspirada em ícones como Louis Armstrong, King Oliver, Fats Waller e Jelly Roll Morton, a TJB logo se destacou pela qualidade musical, respeito às raízes do jazz e pela habilidade de reinterpretar clássicos com criatividade, sem perder a essência original.

O diferencial da banda era evidente: não se tratava apenas de reproduzir temas antigos, mas de reviver o jazz com autenticidade brasileira, incorporando pitadas de humor, improvisação e arranjos sofisticados. Com o passar dos anos, o grupo se consolidou como um dos mais respeitados nomes do gênero fora dos Estados Unidos.

Ao longo de seus mais de 60 anos de estrada, a Traditional Jazz Band gravou mais de 23 álbuns, sendo alguns deles obras-primas do jazz tradicional brasileiro. O disco comemorativo “Traditional Jazz Band Brasil – 45 Anos de Estrada” (2010) é exemplo da longevidade e excelência do grupo, reunindo clássicos consagrados do repertório jazzístico mundial.

A banda também teve forte presença nos palcos. Foram centenas de apresentações em festivais, casas de jazz e programas de TV, encantando gerações de ouvintes. A energia contagiante dos shows, sempre guiados pelo humor e técnica impecável de Cidão, tornava cada apresentação uma celebração do jazz.

Além disso, a TJB foi presença constante em produções culturais brasileiras. Destaca-se sua participação nas trilhas sonoras de filmes do cineasta Walter Hugo Khouri, como “Amor Estranho Amor”, “Forever” e “Eros”. Essas colaborações ajudaram a eternizar o som da banda também no cinema.

Embora fosse exímio baterista, Cidão também se destacou por seu domínio de um instrumento pouco comum hoje em dia: o washboard, ou “tábua de lavar”. Este instrumento, usado na era do jazz primitivo, tornou-se uma das marcas registradas de suas performances.

Com um estilo performático, ele arrancava aplausos e risos da plateia ao transformar utensílios do cotidiano em verdadeiras ferramentas musicais. A combinação de técnica refinada, senso rítmico apurado e irreverência natural fez de Cidão um dos músicos mais queridos do público brasileiro.

Mais do que músico, Cidão foi o grande embaixador do jazz tradicional no Brasil. Durante décadas, ele conduziu entrevistas, participou de debates e se apresentou em programas de rádio e televisão, sempre defendendo a importância da música como expressão cultural e social.

Era ele quem guiava o público durante os shows, explicando as origens das músicas, contextualizando compositores e promovendo a educação musical com leveza e bom humor. Seu carisma fez com que a TJB extrapolasse o nicho do jazz e alcançasse públicos mais amplos.

A notícia da morte de Alcides Lima foi divulgada nas redes sociais da própria Traditional Jazz Band, em uma nota comovente que lamentava profundamente a perda de seu fundador e mentor.

“É com imensa tristeza que comunicamos o falecimento de nosso querido Cidão. Sua paixão pela música, seu talento inigualável e sua alegria contagiante deixaram uma marca eterna em nossos corações e na história da banda.”

O velório aconteceu na Funeral Home, em São Paulo, com a presença de amigos, músicos, familiares e fãs. Posteriormente, o corpo foi cremado no Crematório Vila Alpina, também na capital paulista.

O legado de Cidão para o jazz brasileiro

O impacto de Alcides Lima no cenário musical brasileiro é difícil de medir. Ele não apenas ajudou a fundar uma das mais importantes bandas de jazz do país, como também contribuiu para a formação de uma identidade brasileira no gênero — com criatividade, humor e maestria técnica.

 

 

 

 

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